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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 21 de agosto de 2012

VIAGEM À MINHA TERRA (Sétima parte)


                                             Rangel Alves da Costa*


Bonito ou feio, cuidado ou malcuidado, entregue aos espinhos do tempo ou guardando uma flor na sua aridez dos dias, não adianta, tanto faz, pois toda vez que meus pés pisam em Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo meu coração se enche de poesia matuta, de verso encourado e subindo a galope, de uma imensa vontade de me fincar na terra, me tornar raiz, me espalhar absoluto pelos seus quadrantes e nunca mais deixar que o cheiro da terra saia do meu lado.
Quantos sonhos, desejos, mas tudo nas mãos do destino, na vontade maior de Deus, no que Ele me achar merecedor nos dias futuros. Aquela casinha sim, lá perto da mataria sim, vizinho ao mandacaru e xiquexique sim, ao lado da catingueira sim. E olhe lá que lua bonita é a sertaneja, olhe lá que café cheiroso saindo do bule, olhe lá que alvorecer passarinheiro, olhe lá o compadre passando adiante e dando bom dia. Traga-me um papel, uma folha, qualquer coisa, pois preciso despejar em linhas tortas o que se avoluma em meu coração.
Confesso-te, minha terra, que gostaria sempre de encontrá-la com outra feição, que não vivesse tão abandonada, ferida, perseguida pelos administradores. Os prefeitos mais recentes parecem não gostar da cidade, do município, do lugar. Parecem inimigos das ruas, das praças, do povo, do que já foi construído. E quase sempre pela metade. E chega outro e vai relegar ao abandono. Até quando essa vil política, essa nojeira de perseguição, essa administração para grupelhos e apadrinhados?
Ainda assim, ainda que aqueles que deveriam construir façam o contrário, verdade é que Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo é imenso, é maior que tudo, bem mais importante que qualquer prefeito, qualquer vereador, qualquer liderança política. Também maior e mais alto que o seu próprio povo – ou uma parcela da população que não se deixa iludir, não se corrompe, não se desmoraliza diante de promessas -, pois erguido lá no alto pelas mãos de uma gente que não cansa de lutar para dignificar sua terra.
Sei e sinto que minha cidade, meu município, teria uma feição muito mais grandiosa do que tem hoje a partir de ações simples da administração pública. Já disse e repito que é até vergonhoso ver todas as ruas do centro da cidade totalmente esburacadas e não ter qualquer providência sendo tomada, ver escolas caindo aos pedaços e nada ser feito, ver as praças sendo completamente destruídas e o fazer de conta que tanto faz. A que ponto chegamos meu Deus, de se administrar para o pior, para a destruição, para o descaso, a omissão, a negligência...
Certamente haverá aqueles que dirão que minhas palavras não passam de partidarismo ou opção política, vez que não rezo na cartilha nem do ex-prefeito e nem do atual, e este candidato à reeleição. Mas quero que me digam se está correto, se é aceitável, se é acerto da gestão municipal deixar a creche, a casa dos idosos e o recém construído ginásio esportivo no estágio em que estão.
Na minha caminhada pelos arredores do hospital me deparei com cenas deprimentes de recentes e modernas construções já sem serventia alguma, com portas desabando, totalmente deterioradas, num arremedo de obras públicas. Parece-me que aquilo que seria uma creche tem o nome de uma falecida tia minha, a professora Domitila Alves, Tia Tila; já ao destruído centro de convivência dos idosos deram o nome de meu avô paterno, também falecido, Ermerindo Alves Costa. Contudo, o que mais revolta é que tais construções são recentes, que se cuidadas, mantidas e preservadas estariam cumprindo primorosamente sua função social.
Há de indagar, então: Será que a cidade não precisa daqueles espaços de acolhimento para as crianças e os idosos? Lógico que sim, mas certamente terão de construir outros, gastar muito dinheiro público naquilo já existente e que precisaria apenas ser mantido. É a farra inconcebível, o descaso abominável, a má-gestão do bem público atual. E tudo simplesmente porque a construção de outros espaços demandará licitação, e tal procedimento, até que se prove o contrário, abre caminho para proveitos pessoais de alguns.
Outra obra que encontrei, e desta vez totalmente construída, nova e bonita, mas que ainda não possui qualquer serventia por causa da necessidade de pequenos reparos e falta de instalação de alguns equipamentos, foi o ginásio esportivo nos arredores do Lídia. Imenso, realmente majestoso, mas fiquei sabendo que antes mesmo de qualquer uso já apresentava problemas: o piso é inadequado às práticas esportivas, a cobertura não oferece a segurança requerida, além de outros aspectos estruturais.
Quer dizer, certamente gastaram uma fortuna na construção, mas não tiveram o cuidado de observar pequenos detalhes que se transformaram num grande problema. E mais uma vez repito que ou se providencia rapidamente o que for necessário para o pleno funcionamento ou o próprio tempo dirá qual a serventia de um equipamento esportivo tão essencial na vida da juventude poço-redondense.
Aliás, não desmerecendo o local onde foi construído o ginásio esportivo – ou quadra poliesportiva -, creio que a região central seria o lugar ideal para a sua instalação. E não em qualquer, mas sim no local onde hoje em dia se espalham aquelas mesas horríveis, malcheirosas e imundas, numa parte da feira que erroneamente insistem que aconteça em pleno centro da cidade. E não apenas um ginásio poliesportivo, mas um grande centro de múltiplas atividades, contando com quadro e outras instalações para práticas recreativas.
São pequenas atitudes, alinhadas à boa vontade e correção no administrar, que podem tornar uma cidade simples num lugar muito mais humano, cativante, bonito de se viver e visitar, proporcionando aos seus moradores a qualidade de vida que tanto necessitam. E nesse passo, numa consequência conjunta, o comércio seria favorecido, o turismo sairia das sombras, a juventude, idosos e toda população não ficariam mais à mercê de viver de esperanças por dias melhores. E certamente os problemas das drogas, da ilicitude e da violência seriam sensivelmente diminuídos.
A pedra de toque seria que a administração municipal empreendesse uma incansável luta para levar indústrias, fábricas, empresas para o município. Para garantir melhoria para a população, aumentar renda e circulação de riquezas no município, não se pode ficar apenas lamentando do gabinete e torcendo para que as coisas aconteçam. Não. Tem de ir atrás, mostrar as potencialidades do município, oferecer incentivos, bater mil vezes na porta dos empresários até que se sensibilizem sobre a importância da instalação de unidades produtivas na cidade e nos povoados.
E também, dentre outras coisas, asfaltar desde a entrada da cidade, pelo lado do hotel fazenda, tomando toda a Av. Poço Redondo, circundando a Praça da Matriz, seguindo pela Rua Prefeito João Rodrigues e descendo pela Praça Arnaldo Rollemberg em direção à rodovia estadual. E neste passo mais uma indagação: Por que prefeitos aliados do governador nunca lutam para conseguir uma melhoria tão essencial assim para a cidade?
Simplesmente não querem a melhoria nem da cidade nem da população. Mas quem tiver uma resposta melhor que dê.
 
  

Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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