SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Porto (Cantiga de Gabriela) (Poesia)



Porto (Cantiga de Gabriela)


A saudade dedilha
a viola dolente
chamando a flauta
ouvindo o apito
do barco que vem
na distância azul
das águas do mar
vidas de preamar
rumo ao porto...

nas ladeiras negras
sobem as pretas
com seus caçuás
seus cestos de frutas
de peixes do mar
coisas de preamar
vieram da margem
das águas da vida
dos limites do porto...

os ternos dos coronéis
sujos de batom dos cabarés
os moços entristecidos
os moços afogueados
brindam a sorte da morte
tragam o sul e o norte
ao pé do balcão antigo
e arriscam lançar o olhar
à moça bonita que chega
morena faceira que só ela
pele jambo de Gabriela

grita o menino grapiúna
Dori Caymmi mulato
a mando de Jorge Amado
calando a reza da beata
e os sussurros amantes
solta vozerio dizendo
que o cacau é tudo
que a vida é quase nada
e que só há uma estrada
para chegar ou partir
para chorar ou sorrir
ali no cais do porto...

e depois cantarola
ao som da flauta de vento
num acorde de brisa
“iá iê, iá iê, oní onã
iá iê, oní onã, nê onã
iá iê, lê lê ô, iê oní onã
iá lê onâ, ê ô, oní onã
onã nã nã naiê, ê ô...”


   
Rangel Alves da Costa

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