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terça-feira, 28 de agosto de 2012

ALGUMAS VERDADES SOBRE PAIS E FILHOS (Crônica)

                                   
                                               Rangel Alves da Costa*


Certamente fruto da tradição religiosa cristã, somando-se aos antigos cultos parentais e à justificação da infalibilidade do berço de nascimento, verdade é que a família sempre foi considerada a base e alicerce de toda formação do indivíduo.
Daí o primeiro erro, pois se fosse assim certos indivíduos ainda vivendo com os seus não incorreriam em tantos desacertos lá fora. Também não haveria como aceitar a desculpa de que os pais fazem tudo para colocar o filho no caminho da retidão e se este erra é por fraqueza individual e não por falta de lições.
Mas ora, será que os pais não precisam saber que filhos não devem ser educados, trabalhados, manejados psicologicamente, para o mundo, para dar satisfação à sociedade, e sim a eles próprios? E quem já viu ou ouviu dizer que a sociedade, esta mesma onde o homem é o lobo do próprio homem, quer que o indivíduo seja virtuoso e bom, honesto e moralmente íntegro? Ela sobrevive exatamente do erro dos outros, sob pena de não ter como fazer aquilo que ela mais gosta, que é discriminar e incriminar.
Se é verdade que a boa ou má formação do indivíduo depende da criação, da forma como os seus pais o preparou para enfrentar o mundo, então logo se depreende que a instituição familiar faliu em muitos aspectos. E faliu porque não consegue ou não se preocupa em estender a formação do filho além dos cuidados básicos que lhe parece ser o bastante.
Verdade é que filho não é apenas uma coisa que se faz embaixo dos lençóis, em seguida enche de fraldas, bicos e papinhas, ensina a andar e a falar, se preocupa em alimentar e depois mostra à sociedade que agiu com responsabilidade e cuidado, pois o seu está se desenvolvendo com saúde e disposição. Também não é só proporcionar educação escolar, dar conselhos e depois pegar o cabo de vassoura para dar no lombo quando surgirem os primeiros erros.
Ocorre que a família só faz isso para os outros, para mostrar aos vizinhos e conhecidos que a sua cria é a coisa mais linda e sapeca do mundo, que permanecerá para sempre um anjinho de candura. Mas dentro das quatro paredes a situação é totalmente outra, vez que os problemas existenciais e as intrigas familiares sempre são mais importantes do que o filho e este muitas vezes terá de pagar na pele pela culpa dos outros.
Ora, não pode ser pai nem mãe se não pode dar bons exemplos ao filho; não pode ter filho um casal que se engalfinha e faz das quatro paredes um antro de violência; não pode ter filho uma mãe que se preocupa mais com a vida dos outros do que com sua própria casa; não pode ser pai aquele que faz do alimento que coloca na mesa o bastante. Não pode criar um filho uma família que só existe para os olhos dos outros.
Mãe degenerada e pai desnaturado fazem crescer animais arredios. Depois que o filho começa a saber o que é uma porta de casa e gosta do que existe lá fora, ou os pais o trazem de volta para primeiro conhecer o que é uma janela ou não haverá mais retorno. Uma vez na rua, ao surgir o primeiro erro o pai será o primeiro a dizer que o ser humano de vez em quando erra ou tem de errar para aprender. Na segunda falha vai dizer que não foi por falta de conselhos. Mas que conselhos?
Pais não precisam dar conselhos infalíveis, ensinar lições acabadas ou dizer o que está certo ou errado na vida. Não adianta querer ser sábio agindo na ignorância. Seria o mesmo que dizer que faça o que digo, mas não faça o que faço. Se pretenderem que o seu filho cresça com sabedoria, obediência e educação pessoal, têm de se comportar como o grande livro silencioso da vida e deixar que suas ações sejam o reflexo de como deve ser o comportamento perante a vida.
Se o pai e a mãe forem pessoas psicologicamente equilibradas, preservem em si e nas suas ações o senso de responsabilidade e saibam os limites do acatar e agir, certamente que a qualquer momento poderão impor aquilo que for o melhor e até afirmar quais os resultados que pretendem ver obtidos nas ações do filho. E isto não somente na adolescência, mas por toda vida, vez que todo pai, a qualquer tempo, poderá pedir ao seu o respeito que a família requer.
Depois certamente será demasiadamente tarde para perguntar onde foi que errou.


  
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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