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quarta-feira, 6 de junho de 2012

O FIM DO MUNDO, PASSO A PASSO (Crônica)

                          
                                             Rangel Alves da Costa*


Que não se imagine que o fim do mundo será no dia 12 de dezembro, como preveem aqueles aficionados pelas profecias maias, e muito menos através de bolas de fogos que caiam dos céus, rios de lava que vão destruindo tudo ou outros cataclismos que destrocem de vez essas frágeis formas de vida que pairam sobre a terra.
O fim do mundo não será um espetáculo de destruição, um fogaréu iluminando tudo e em seguida reduzindo cada ser a brasa, carvão ou coisa nenhuma. O fim dos dias não terá a suntuosidade catastrófica apregoada no Apocalipse nem virá como algo marcado num calendário, como data que marcará o fim das civilizações.
O próprio Nostradamus nunca se predispôs a dar sinais evidentes de uma época para o fim do mundo. Quando suas profecias falam no fim dos dias o fazem através de sinais, numa junção de elementos e fatores que se constatados vão evidenciando aos poucos o desfecho da humanidade. Assim, o profeta não traz uma revelação acabada, mas fatos que poderão acontecer e neles as evidencias dos perigos cada vez maiores que o mundo passa.
Como não diz qual será o ato último da humanidade, pressupõe-se que aponta o seu fim a partir de uma consequencia de ações que culminarão não num fim, mas na perda total e absoluta da razão de ser, de continuar existindo enquanto planeta. E tais evidencias já podem ser vistas, por exemplo, na degradação desenfreada dos recursos naturais do meio ambiente.
Sou daqueles que creem cegamente que o mundo jamais será destruído por qualquer evento especial, por algo que a ele esteja destinado como castigo pela ação humana. Aliás, neste aspecto é preciso deixar bem claro que o planeta terra não tem absolutamente nada a ver com o malfeito dos seus habitantes. E então seria desonesto destruir o planeta para acabar de vez com o homem.
Igualmente ao filho que alcança a maioridade ou se emancipa, a terra não tem nada a ver com as ações irresponsáveis dos seus filhos tão emancipados em tudo, principalmente no progresso científico. Se os habitantes do planeta erram ainda que tenham discernimento suficiente para saber das consequencias de suas ações, não seria correto que o seu berço fosse chamado a arcar pelos seus erros.
Será preciso, pois, que qualquer destruição que houver alcance somente o homem, de modo a deixar o planeta para futuros habitantes, para seres de qualquer espécie que sejam mais responsáveis pelas suas próprias vidas. A casa fica, a construção continua, cabendo aos novos habitantes respeitá-la e preservá-la. O que os humanos inegavelmente não sabem fazer.
Por ingratidão, por descuido, descaso, por brincar de viver, o homem se tornará poeira e levado pela tempestade que tanto semeou durante o tempo que lhe foi permitido fazer o bem, construir o melhor. Certamente que outros seres serão mais inteligentes para saber que realmente toda ação nefasta produz uma reação de igual valor ou mais acentuada.
Essa destruição, esse fim de mundo, já vem ocorrendo desde muito tempo. Na razão de Nostradamus, os eventos ocorrem quase que imperceptivelmente, sem precisar de um grandioso evento para abalar as estruturas do berço da humanidade. São vistos como fatos rotineiros, cotidianos, ações refletindo o progresso, contudo são verdadeiros sinais de que o ser humano caminha para o abismo.
Ora, impossível que não se tenha a devastação do meio ambiente e dos recursos naturais como eventos extremamente nocivos para a humanidade. Não se pode negar que os valores negativos do homem se aprimoraram a tal ponto que ninguém confia mais em ninguém, não há o desejável respeito para com o próximo, o homem está cada vez mais sendo lobo do próprio homem.
A família enquanto sólida instituição de formação do indivíduo não existe mais; as relações familiares se fragilizaram a tal ponto que os maiores inimigos carregam o mesmo sobrenome; os pais não conseguem mais serem ouvidos pelos próprios filhos, e estes agem como se não devessem mais dar satisfação a ninguém. Por consequência, o aumento da violência, do uso de drogas, da prostituição, da entrega absoluta aos nefastos modismos.
A cada evento desses o mundo vai perdendo sua razão de ser, as pessoas vão se afirmando como incapazes de continuar existindo. E chegará o dia em que não precisará mais de um fim do mundo, mas apenas o fim de tudo que foi plantado por essa humanidade ingrata e suicida.


Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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