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segunda-feira, 21 de maio de 2012

PERGUNTAR NÃO OFENDE (Crônica)


                                              Rangel Alves da Costa*


Se perguntar não ofende, então responda:
Se tudo estava tão quieto e limpinho, por que você passou e arrancou a flor, tirou o que estava no lugar, riscou o muro recentemente pintado, jogou o papel de bala no chão, tocou a campainha sem querer visitar?
Já que diz gostar tanto de gente, que é pacífico e cordial, educado e cavalheiro, então por que passa pelo conhecido e não dá nem bom dia nem boa tarde, caminha querendo passar por cima dos outros, vê e olha para cada um como se fosse um inimigo?
Se é assim mesmo como tenta demonstrar, tão sério e conservador, tão recatado e tomado de máxima moral e bons costumes, por que seu pensamento, seu olhar e seu instinto são tão vulgares quando passa uma mocinha, uma jovem, qualquer mulher que não seja do seu seio familiar?
Já que muitos parecem ter problemas que somente a música pode resolver, e daí procuram aliviar os seus males se entregando de corpo e alma a baboseiras, a baianadas e outras aberrações musicais, então por que não experimentam uma música clássica, erudita ou o melhor que há no cancioneiro popular? Talvez a cura esteja aí.
Creio que é sempre preciso saber um pouco mais sobre as coisas que tanto ouvimos falar. Então por que não procura saber quem é o autor ou pronunciou frases como “Existem mais coisas entre o céu e a terra do que imagina nossa vã filosofia”; “Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”; “O homem é o lobo do homem”; “Vim, vi, venci!”?
Já imaginou o quanto sobre a vida dos outros você quer saber e, na mesma proporção, os outros querem saber da sua? Por que pensa que os segredos e as intimidades dos outros são menos importantes do que as suas? Por que sempre quer enxergar o outro por dentro e sempre se esquece de olhar-se intimamente?
Já pensou em saber um pouco mais sobre filosofia, e assim ficar o tempo que for necessário esperando o retorno da água que já passou? Que tal perguntar à pedra sobre o seu sentimento ou à flor se é verdade ou não que o orvalho é mesmo a lágrima chorada na madrugada. Você já conversou com o seu silêncio?
A princesa tem sangue azul e na sua veia corre sangue vermelho. Do seu casamento com a nobreza nascerá um filho com sangue de qual cor? Cuidado com o que vai responder, pois qualquer resposta será preconceituosa, discriminatória. O que você tem contra a família de sua esposa e também contra a humilde genética de seu sangue?
Sei que é complicado responder, difícil mesmo, mas vou perguntar. Uns dizem que você veio do barro, da criação, outros afirmam que da família dos macacos, já outros dizem que não passa de um ser extraterrestre num corpo de gente, e ainda há os que dizem que você não é nada e nunca existiu, pois todo ser vive na ilusão existencial. Afinal de contas, quem é você?
Conheço gente que não assiste novela com personagens que tenham morrido em outras novelas. Não consegue entender como uma pessoa morre e pouco tempo depois já aparece novamente como se nada tivesse acontecido. Tem até medo de olhar pra televisão. Quer dizer, não assiste mais uma só novela. Por outro lado, vive dizendo aos familiares que quer ser artista pra quando morrer voltar novamente. O seu personagem aqui na terra tem quantas vidas?
Se a água, ao invés da cor e da leveza que tem ou ao menos deveria ter, fosse vermelha e com sabor, você beberia? Se o horizonte azul fosse todo no mais puro negrume você olharia o entardecer do mesmo jeito? Se o cego pedisse seu olhar emprestado, para não ficar sem nada você pediria para ficar usando o dele? O que seria de seu futuro se a cada mentira tivesse um dia a menos na vida?
Achar que sente é uma coisa, mas você sabe realmente o que é o amor? Não sei se consegue responder, mas eu não sei não. Só sei que a cada dia vou arriscando amar. Quem sabe um dia...



Poeta e cronista
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