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domingo, 13 de maio de 2012

MÃE, DESDE MARIA... (Crônica)

                          
                                                              Rangel Alves da Costa*


Do desejo de procriar, inventa-se um semear, concebe-se um ser no ventre, idealiza-se a vida futura, proclama-se um nascimento, dá-se à luz do mundo sua cria. Intermediária do Criador, passa a ter a responsabilidade eterna do amor, do afeto, do cuidado, do peito, do leite, da alegria, da realização, mas também da dor, da tristeza e do sofrimento.
Mãe... Desde Maria de Nazaré - e o nome da minha falecida mãe também é Maria -, sempre a mesma mãe, luzindo a maternidade seja em manjedoura ou no conforto da ciência. Desde lá como aqui, a esperança e o temor, a dor e o encantamento, o sopro e o suor, o choro e o alívio.
E já no mundo, após o costumeiro choro de vida e já entregue à sorte da existência, ainda assim a cria liga-se umbilicalmente à criatura. E assim continuará para sempre, mesmo que o cordão umbilical separe os dois corpos. Como numa ligação invisível, o filho continua nutrindo da mãe toda a força que precisa para bem caminhar pela estrada.
Já antes dessa magia de dar à luz, a mulher vai se enchendo de maternidade de forma contínua. A criança precisará de fraldas, de roupinhas, de sapatinhos, de perfumes e uma série de coisinhas azuis ou rosas que encantam e até fazem chorar, e dessa expectativa e preparo vai surgindo a mãe zelosa, cuidadosa, desejando o melhor para o seu, mesmo que ainda vá nascer.
É nesse primeiro percurso que vai se enraizando na mãe o laço afetivo mais forte que se possa imaginar. De veia que é, de sangue que é adubado, de herança genética que é cultivado, torna-se muito mais que um fruto que brotará. Será cuidada até ter meios para enfrentar o mundo sozinha, porém continuando a ser um lado inseparável de sua mãe.
Inseparável porque a mãe nunca se afasta nem se distancia do filho, ainda que este prefira andar sozinho e nem deseje a sua presença na lembrança. E são muitos os exemplos que confirmam isso. A mãe sente a fome, a sede e o sofrimento do filho; se antecipa aos acontecimentos para saber quando está em perigo; as vozes e as palavras do mundo sempre segredam à mãe como o filho está.
Esse amor, essa devoção, esse cuidado e esse sofrimento se a situação exigir é próprio de qualquer mãe. Contudo, mãe aqui no sentido da responsabilidade com a sua cria, com aquele ser que se determinou trazer ao mundo, e não aquela que abomina a maternidade desde antes do nascimento.
A mãe que abraça esse doce desígnio faz da manjedoura um berço de ouro. Gestantes empobrecidas costuram panos usados para fazer roupinhas, aceitam de coração todo presentinho que chega, sorri de felicidade porque conseguiu um humilde berço para deitar e balançar o seu. Apenas isto ou aquilo, apenas um quase nada do que tanto queria ter para o filho mais lindo do mundo. Ainda assim contente demais por tanta riqueza que caberá numa maletinha.
Na verdade, o enxoval da criança deveria ser mais dentro da mãe do que naquilo que se espalha na cama e chama a vizinha para ver. O presente maior está sendo embalado no ventre, as relíquias da criação se espalham no puro sentimento materno, no coração que já acostumou a amar, no corpo inteiro que se enche como uma casa festiva para o recebimento de ilustre morador.
E quando a velha parteira ou o médico estendem os mãos depois do trabalho realizado e um grito choroso se espalha pelo ar, então não haverá mais duvidar de que o filho nasceu. Ao vê-lo pela primeira vez, a mãe dá um sorriso de satisfação tão grandioso que a irradiação desse momento deveria subsistir para sempre.
Aquele primeiro sorriso muitas vezes se largueia depois, se redobra ainda mais, ou simplesmente vai murchando com o tempo. Não pelo desejo da mãe, eis que gostaria de encontrar no filho sempre um motivo de felicidade. Mas pelas circunstâncias da vida, pelas estradas que se tornam curvas demais, e o que seria satisfação se torna em dor e aflição. E como gostaria de ter a força para colocá-lo de novo no ventre, de novo na vida, e com um novo viver.
Mas até nesse momento de lágrima é sublime a feição de mãe. Sendo parte dela, tudo que diz respeito ao filho também constrói e destrói dentro dela. Mais do que no próprio filho, da vida dele depende também a sua existência. Não há mãe que suporte ver arrebatado pelas mãos maldosas do mundo um filho que lhe pertence.


Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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