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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 4 de abril de 2012

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: FEITO DOIDO VARRIDO

                                             
                                           Rangel Alves da Costa*



Conto o que me contaram...
A namorada também não tinha motivo justo para fazer aquilo. De uma hora pra outra, sem ter nem pra que, fez coisa feia demais, indigno para uma moça decente. Eis que mandou uma amiga dizer ao até então namorado que dali em diante se virasse sozinho, pois o namoro havia acabado entre os dois.
Quando ouviu esse recado o pobre do Tibério quase cai pra trás. Logicamente que não quis acreditar no que a amiga da outra dizia, pediu para que repetisse muitas vezes, e em todas elas simplesmente o fim do namoro. Como não podia mais duvidar, então colocou a mão na cabeça, arregalou os olhos, ficou mais vermelho do que tomate e gritou:
Por que, por que, por que, por que, por que, por que, por quê? Por que fazer isso comigo, por que terminar assim, por que simplesmente me mandar um recado sem chegar à minha frente pra dizer o motivo? O que fiz de errado, o que estava errado no nosso amor, o que não podemos fazer para evitar tudo isso?
A amiga da namorada achou melhor afastar um pouco diante da cena seguinte que teve de presenciar. Primeiro o abandonado se agachou e ficou esmurrando chão, e sempre perguntando por que. Depois levantou com olhos abrasados, a boca retorcida, o olhar fumegante, esvoaçou o cabelo e dele tirou tufos e mais tufos. E o pior, catou pedra no lugar e começou a jogar em toda direção. E sempre perguntando por que, por que, por que, por que...
Não demorou muito, e num estado já lastimável de quase insanidade, correu de canto a outro, em seguida deitou no chão e começou a rolar. Levantou e rapidamente fez correria, rumando em direção à rua onde morava sua ex-namorada. Ao chegar defronte a casa, se postou diante da janela e começou a cantar bem alto uma canção mais que apaixonada:
“Ah, minha amada, por que brigamos, não posso mais viver assim sempre sozinho, pois eu te amo tanto...”. E mais uma canção:
“Tens a beleza da rosa, uma das flores mais formosas, tu és a flor do meu lindo jardim, eu a quero só para mim. O teu suave perfume, às vezes causa-me ciúme, ao te beijar sinto no coração o pulsar da mais pura paixão, porém tenho medo que tua beleza de rosa se transforme num espinho, quase morro só em pensar em perder teu carinho. Tenho medo que esta paixão seja uma ilusão sem fim. Tenho medo que não sejas a flor do meu triste jardim...”.
Depois de cantar começou a gritar e a dizer, talvez, coisas que não devesse. Mas disse: Eu sabia que você ficava com outros e aceitava por te amar demais. Eu sabia que você só me queria porque eu entregava na sua mão todo dinheiro que recebia. Eu sabia que você não estava gostando de tanta demora em comprar aquele colar de brilhante que você exigiu. Eu sabia de tudo isso, mas aceitava na esperança de um dia receber seu verdadeiro amor.
E continuou: Mas já que não me quer mais, então a partir de agora vou dizer pra todo mundo que você é feia, que tem um sinalzinho perto do bico do peito, que sente cócega quando pegam na sua bunda, que só sabe beijar com a boca molhada e coloca perfume de feira dentro de vidro de perfume de rico. E vou gritar pra todo mundo ouvir que...
E começou a chorar de fazer a rua transbordar. Depois começou a atirar pedra na janela da menina e foi preso. Saiu da delegacia diretamente pro hospício. De onde, aliás, nunca mais saiu. Mas agora é conhecido como o poeta dos espinhos sem flores. Só escreve sobre dor de amor, como se no passado já houvesse amado muito. E sido ferido.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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