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quarta-feira, 18 de abril de 2012

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: FAZENDA TERRA DOURADA (10)


                                                        Rangel Alves da Costa*


Ao ouvir a resposta do jagunço Celestino, os dois filhos do coronel arrastaram um sorriso maldoso de orelha a orelha. Contudo, franziram o cenho rapidamente ao ouvir o que o pistoleiro então contratado disse em seguida:
“Tratem de arranjar o dinheiro do pagamento, e logo, principalmente pela urgência da encomenda. Volto já, mas agora me deem licença um instatinho que vou segredar no ouvido do seu pai a empreitada que me contrataram pra fazer. E talvez a vítima, o velho padreco como dizem vocês, ainda esteja por lá. E o coitado nem sabe que vai morrer, e matado a mando dos filhos de um amigo...”.
Tais palavras tiveram o efeito de uma bomba aos ouvidos dos irmãos. Não somente aos ouvidos, pois estremeceram dos pés à cabeça. Sem muita noção do aperreio em que haviam se metido, procuraram palavras e não encontraram, procuraram passos para se mover e não acharam.
“Mas você está louco, Celestino? Que conversa é essa de ir contar ao meu pai o acerto entre a gente. O acerto é entre a gente e ele não tem de saber disso de jeito nenhum. Nem pense em fazer isso...”. Conseguiu falar Licurgo. Ao que o jagunço respondeu já se encaminhando para a porta:
“Não só tenho de fazer isso como vou fazer isso agorinha mesmo. Sou jagunço, sou pistoleiro, sou matador e o mais que queiram me chamar, porém só faço a coisa do jeito certo. Quando seu pai me manda derrubar um cabra, um inimigo qualquer, faço porque sei que ele vai me proteger depois, não vai deixar que a justiça queira se intrometer na minha vida. E por isso ele gasta e gasta muito comprando delegado e demais autoridade da justiça. Desse jeito, quando mato a mando dele sei que vou ser protegido depois. Derrubo o cabra e venho pra debaixo do sovaco do homem e não tem besta que diga um tantinho assim. Mas isso é quando descobrem que a tocaia fui eu que armei, coisa que é muito difícil de acontecer, pois só faço a coisa bem feita, de modo a não sair nem fumaça no cano da arma depois do tiro certeiro. Mas vocês podem fazer o que se descobrirem que taquei fogo no homem da igreja? Vocês podem fazer o que se acaso rastejem o meu passo e fiquem sabendo do maior pecado do mundo?  De certo que nada. Nadica de nada, isso sim. Por isso vou fazer o que mandam, mas primeiro vou dar ciência ao seu pai. Mais tarde, acaso o pior aconteça, não vou ficar desprotegido. Então, arrumem o dinheiro, bote aí em cima que já volto...”.
Já na passada que ia em direção à porta, o jagunço percebeu Permínio conseguir forças para correr feito um desesperado em direção à porta, tomando-lhe a passagem. E logo chegou Licurgo para ajudar o irmão. Vendo que tentariam impedi-lo de passar, o pistoleiro simplesmente sacou a arma e perguntou qual dos dois queria receber primeiro uma bala na testa.
Nesse instante, vendo que Celestino não estava pra brincadeira, Permínio caiu pra traz, desmaiado, feito um toco de pau. Licurgo se espanou em correria que mais parecia fugindo de boi brabo. Ainda assim Celestino não se importou com nada disso, seguiu por um dos corredores do casarão e logo chegou à entrada do quarto do patrão. Encontrou a gorducha Graciosa saindo de lá com uma bandeja na mão e perguntou se o seu esposo ainda estava recebendo visita.
Com resposta afirmativa, ficou por ali andando de lado a outro, pensativo, preocupado, matutando sobre o que levaria àqueles dois desejarem a morte do padre, e de um jeito tão rápido e tão esquisito, sem um motivo forte que justificasse crime tão escabroso. Estava ainda buscando respostas quando avistou, por uma janela aberta adiante, os dois filhos do coronel correndo em direção à igrejinha. Que coisa mais estranha, pensou. Havia deixado um desmaiado e outro corrido, e agora do lado de fora tão apressados daquele jeito, então alguma coisa tinha coisa inesperada tinha acontecido. Pensou em sair para saber o que estava acontecendo, porém resolveu falar com o patrão primeiro.
Lá fora, ardilosamente, os dois irmãos entravam pela porta dos fundos da igrejinha com olhos ávidos em busca de sinais do ouro ali escondido.


Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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